10 de mar. de 2006

Quando eu morava em Shityville, dificilmente tomava ônibus (toma ônibus, pega ônibus, aborda o ônibus, são infinitas as opções). Agora, na megalópole, faço isso constantemente porque, não sei se vocês sabem, andar muito é prejudicial à saúde. Principalmente para a minha. E os quarteirões aqui são... Bem, são de megalópole. Já estraguei três sapatos de salto nesta porra de cidade. As calçadas são absurdamente podres, feitas para quebrar saltos e dissolver calcanhares.
Bom voltando ao assunto do busão (incrível como eu fujo do assunto que estava pensando em segundos), eu descobri que existem criaturas básicas, que fazem parte do folclore do ponto buseico. Nomearei as mais clássicas.

Tiazinha da sacola: Sempre há uma tiazinha baixinha, gordinha, com os cabelos presos em coque, vestida em tons pastéis e chinelinhos. As unhas do pé pintadas de "rosa cintilante". A tiazinha da sacola é um dos grandes mistérios da humanidade: O que há na sacola? Uma bomba nuclear? O santo graal? Restinho de feijão na tuppeware? Reles humanos, temei a tiazinha da sacola!

Maninho Trabalhador: O maninho trabalhador é um bom rapaz, apesar de maninho. Ele se destoa da filosofia "fubu" de ser porque trabalha na "firma". Geralmente tem um corte de cabelo de mau gosto, com um topetinho na frente e raspadinho do lados. Os dentes são muito tortos, por isso ele respira pela boca e constantemente puxa a gola da camisa pra limpar o nariz. Usa camisa de futebol neutra, times europeus ou do Brasil. Pra mostrar que é raça e gosta de futebol, mas que não é maninho suficiente pra arranjar brigas. Como eu disse, é um bom rapaz.

O do bigode: O do bigode nem sempre tem bigode. É que é muito engraçado chamar alguém "ô do bigode!". Engraçado pra cacete... Bom, voltando ao "o do bigode". Ele usa uma camisa social muito, muito, muiiiito amassada. Aberta no peito, cordãozinho de ouro fazendo bonito conjunto. Pode ter bigode mesmo, mas o fato é que nunca está barbeado. O do bigode exala um cheiro forte de suvaco misturado à nicotina. Alguns usam boné, sempre promocional, de marca de caminhão ou de pneu. O do bigode cospe e escarra no chão durante sua espera pelo transporte coletivo. Fuma, cospe, escarra, coça o bigode. Meu medo é que eles comecem a escarrar dentro do busão.

Yuppie Ra Ra Ra: O yuppie ra ra ra é um rapaz que inicia sua carreira excutiva ainda cedo, super ambicioso. Só não tem dinheiro para comprar um carro e roupas sociais com cortes razoavelmente aceitáveis. Sempre de mochila, sapatos sociais e celular na mão, o yuppie ra ra ra já assume um ar superior mesmo sendo pobre (ainda). Olha em volta, aperta os botõezinhos azuis do aparelho, anda pra lá e pra cá enquanto fala várias coisas importantes como "recebi o email" ou "mandei o email" ou " eu chequei aquele email" ou "você checou aquele email?". É o típico que depois de rico, pára com um jaguar na frente do ponto e faz cara de dó para quem está lá: "I pity you"! Aprendeu na Yazigi.

Moça Biorene: A moça biorene tem o cabelinho ruim. Mola, miojo, tóinhoinhoin. Ela sempre toma 4 banhos por dia. Exala cheiro de sabonete Lux Luxo misturado ao inconfundível "cremão" para "amaciar os cachos". Ela embatuma o cabelo com uma pasta de composição duvidosa (babosa?) que gruda nas costas, enseba tudo por onde passa. O negócio fica parecendo yakisoba queimado, grudado em placas de biorene. Quando a moça biorene passa na frente do "o do bigode" e do "maninho trabalhador" sempre rola aquela olhada na bunda. Ah sim, a moça biorene usa calças bem justas e blusinhas da "cor da moda". Plataforma nos pés é indispensável. Tome cuidado quando ela virar a cabeça e jogar o cabelo para o lado perto de você. Vão voar 5 quilos de "condicionador sem enxágue" na sua cara. Você pode fica momentaneamente cego e perder o busão.

"Ah, o povo é tão bunito!"