(Seria postado no Shoe-me, mas é digno de Demências...)
No universo das artes, da moda e do design existem figurinhas carimbadas com o tal do "valor agregado". Pessoas que ao colocarem seu nome em uma tampa de vidro de palmito, vendem ao preço que quiserem. Quem define essas pessoas? Quem diz que elas serão "o último grito"? A mídia basicamente, formadores de opinião em geral e insossos que vão com a maré.
A arte, para mim, tem se tornado cada vez mais uma "coisa esquisita". Digo "coisa esquisita" porque não consigo encontrar adjetivo melhor para designar o que têm sido feito ultimamente. Pode não parecer (hey, a mina aqui tem um blog de futilidades) eu sou muito ligada ao que diz respeito às artes plásticas, desde muito nova. Coisas de família. Por esse motivo, frequento sites e busco leituras que me informem sobre o assunto. Visito com frequência o site da galeria Saatchi de Londres, porque lá aparecem muitos artistas contemporâneos e principalmente, o preço das obras. Oh sim, o preço me interessa. Sei que soa errado para quem admira artes, mas como disse a "coisa esquisita" me força a isso. Arte tem preço sim. É super-valorizada. E é esse "preço" que faz os formadores de opinião acharem lindo comprar. Artigo de luxo, não arte. Difícil entender? Tentarei explicar.
Não suporto Damien Hirst. Quem é esse cara? É um artista inglês que faz parte da "nova geração" criativa e é super-valorizado, obviamente. As obras dele me irritam. Me irritam porque são idiotas, não considero aquilo arte, mesmo. Acho tudo vazio, prepotente, sem sentido e principalmente, overrated. É obra pra imbecil ver. São instalações ao melhor estilo "Marcel Duchamp", nonsense e "questionadoras". Quando Duchamp fez, okay, inédito, vamos discutir o valor e a função da arte. Agora Hirst entope o mundo das artes com obras grandiosas e elaboradas que não dizem absolutamente nada. No começo pensei "ei, daqui a pouco acabam esses 15 minutos de fama, o povo vai se tocar da palhaçada". Mas não. Hirst lançou recentemente um crânio coberto de diamantes no valor de 100 milhões de dólares. "Um questionamento sobre a morte e o valor da vida", ele disse sobre a obra moderna mais cara do mundo. E que só vai ficar mais cara com o tempo. Não pelo preciosismo do artista, mas pela preciosidade das pedras.
A Levis contratou o sujeito para desenhar sua última coleção, e adivinhem: ele colocou imagens de crânios em tudo. Ei, tem um estilista brasileiro famoso que já fez isso. Herchcovitch. Blé pra Damien Hirst.
Mas o que me irrita mesmo são as instalações dele: "Lullaby Spring" é uma prateleira de remédios. Isso mesmo, caixinhas de pílulas coloridas em prateleiras de vidro e aço. Vendida por quase 8 milhões de dólares em um leilão recentemente, fez de Damien o artista plástico vivo mais rico do mundo.
Veja, não me incomodo com o preço. Nem com as pessoas que pagam por isso. O mundo é livre, quem quiser gastar essa grana com uma prateleira de remédios, por mim, vá em frente. O fato é que a arte supostamente teria que propor algo maior. Maior do que valores exorbitantes pagos em coisas sem valor algum. Discutindo esse assunto com meu irmão, chegamos a uma conclusão engraçada: as obras dele, eventualmente, perderão valor. Sim, porque não são atemporais. São feitas para o agora, enquanto ele é famoso. É como pagar uma fortuna em um apartamento que depois desvaloriza por causa da região em que está. Damien Hirst perderá o valor porque seu tempo vai acabar. E outros Damiens aparecerão no lugar. Ele ficará rico, sem dúvida. Mas será lembrado como algo "consumível" demais.
11 de set. de 2007
Pra deslumbrado ver
Escrito por Sarah às 12:09
Labels: Arte, Comportamento, consumo