27 de set. de 2005

Irrelevante, mas a gente releva

1- Ontem vi uma quase-morte. Uma velha, de 265 anos, caiu do último degrau do ônibus. De costas. Cabeça batendo no concreto. Plaf. Esse som assim, plaf. Terrível. Eu digo quase-morte porque não sei o que se sucedeu com a velha depois. Espero que nada além de uma dor insuportável. O que é difícil. Ela realmente era bem velha.

2 - Um mendigo veio me pedir um cigarro. Eu fui complacente. Mas o mendigão se encantou. Ficou dançando e cantando na minha frente, como agradecimento. Ele não tinha os dentes, então o canto saía meio assoviado. Se eu soubesse que ele ia cantar, não tinha dado o cigarro. Falei: "Ô amigo, o cigarro não vale essa cantoria..." Ele olhou pra minha cara e disse, no alto de sua boca murcha: "Oxi minina, esse ócrio que cê tá usando tá estranho nocê, dá ele pra mim!".
Puta que pariu, vou me esforçar pra não ter dó de mendigo daqui em diante.

3- Ah sim, eu tive um ato de amor derradeiro à natureza noite passada. Minha mãe começou a berrar e minha cadelinha teve um surto. Estou acostumada com essas coisas lá em casa. Sabe, era um morcego que havia aparecido no andar superior da minha residénce. Repito, estou acostumada com essas coisas lá em casa. Já apareceram vários morceguinhos para alegrar meu dia. Inclusive no meu quarto, e inclusive em cima da minha cama, e incluindo nesse inclusive, comigo na cama. O morcego e eu. Na calada da noite. Mas essa história eu conto depois. Voltando à noite passada: A minha mãe, hippie de meia tigela, queria assassinar o animal. Eu até cogitei a idéia, mas eles são mamíferos, hmn... Se você mata, eles sangram. Muito nojento. E eu vi a carinha endemoniada do bichinho, fiquei com dó. Lembrei do Zé Vampir.
E fui ao resgate. Primeiro, coloquei uma cesta de vime em cima, pra ele não voar na minha cara. Depois, com toda boa vontade, esperei o coitado escalar a cesta de vime. Uma hora ele fez isso. Aí, virei a cesta, e cobri com um plástico, e depois, com um pano. Fui até a rua. Minha mãe berrando, e eu com uma cesta carregada de morcego. "Mãe, pára de berrar e abre a porta!". Fui até a calçada. Virei a cesta. O bicho alçou vôo. Muita emoção naquela hora. Uma lágrima escorreu: "Chuinf, avoa criatura da noite, avoa...."
Segundos depois: "Corre mãe, corre que ele tá voltando AHHHHHHHHHHH".