20 de jun. de 2006

O fim do sistema digestivo


Eu nunca havia saído do Estado de São Paulo na vida. Isso não é motivo de orgulho, já que eu estive fora do país. Mas não tive a oportunidade de atravessar os limites paulistas. Pois neste feriado prolongado fui para Curitiba. Sim, a Capital do Paraná, a capital ecológica do Brasil, seja lá o que significa isso. Ao comentar que iria para esta "maviosa" região as pessoas sorriram e disseram "Nossa que bacana!" e eu sorri de volta. Mas saibam que agora eu não sorrio mais.

Highway
Por incrível que pareça Curitiba está cercada de bananas. Bananeiras por toda estrada, carinhosamente conhecida como "estrada da morte". Há algo de poético em morrer ao lado de uma banana.
Chegada
Ao chegar na rodoviária encantei-me com os táxis alaranjados, cujos não entrei naquele momento porque o "hotel é logo ali".Um quarteirão depois fui abordada por um pobre coitado, que mais parecia motorista de caminhão, informando-me de que aquilo era um assalto, mesmo que não estivesse armado e claramente tinha saído do buteco ali atrás. Eu fiquei assustada, mas não tive tempo de me expressar já que meu "macho alfa" pôs o safado para correr usando técnicas marciais milenares, baseadas em girar malas no ar e xingar o meliante de "filho da puta vagabundo". Funciona.
Miserê
Para relaxar, depois de deixar as malas no hotel, fui para um bar. Lá tive a oportunidade de conhecer a menor porção de linguiça do mundo, mérito que, humildemente creio eu, os donos do bar não reconhecem. Pelo menos tocava Jazz. O mesmo CD no repeat, mas que seja.
Block and boll
Visita a um boteco cadeira de plástico sem graça e um suposto bar de rock com fotos bregas de Robert Smith na parede, onde alguém achou brilhante tocar o mesmo álbum inteiro do REM duas vezes seguidas. Seria uma mania curitibana ouvir a mesma música over and over again??
Day of the dead
Acordei cedo. Fui passear no centro e deparei-me com ruas vazias. Pareciam veias cinzas de um morto. As pessoas na rua caminhavam com o corpo pesado, o olhar distante, apagado. O centro de Curitiba claramente foi erguido em 1970. E se manteve naquela década.
Passeio Público
Vi macacos Caxiú-Preto (Chiropotes satanas satanas - macaco do mal) comendo mamão. Patos nadavam em riozinhos esverdeados e fedidos. As araras estavam deprimidas. As cobras adormecidas. A tartartuga morta, literalmente (só tinha o esqueleto) Um grande pelicano rosa. Produtivo? Sim, bichos são sempre bem-vindos. Mesmo que inertes.
What a ...?
Estátuas gigantes de gente gorda pelada. E um sujeito urinando em uma delas em plena luz do dia. Logo em frente, uma loja de roupas para "tamanhos grandes" chamada "Big Burg" na esquina. Há algo errado em ser um "Big Burg" e querer se vestir bem? Não, não há. Se você é grande em Curitiba meu amigo, você é big. E burg.
Paraleleleleelepípedos
Rua de hippies, sebos, artesanato e incenso.Uma construção em forma de caixa de vidro onde se encontra uma escultura de uma cabeça de cavalo com corpo de cavalo marinho. Visualize tal animal. Agora se arrependa de ter visualizado esta porcaria.
Horse Barf
Imagine uma escultura de um cavalo agonizante,vomitando àgua, tomando um tiro no peito enquanto é "barranqueado" e está preso eternamente em um bloco de concreto que degolou seu pescoço.Pois ela se chama Fonte da Memória e fica em Curitiba. Não podia estar em outro lugar do mundo, realmente.
24 Hour Puny People
Rua 24 horas: Um corredor de ferro tubular cheio de lojas vazias e gente com cara de sono. É muito menor do que anunciam na porta.
Verde
Mas não é que o cachorro-quente da Rua das Flores me encantou? Nunca tinha pensando em jogar cebolinha no cachorro-quente. Duas salsichas viena, molho de pernil e um pão francês mais gordinho formam o conjunto. Gostei bastante e recomendo. Recomendo também que faça na sua casa, não precisa ir pra Curitiba buscar.
Floresta Negra
Eisben no tal "Bar do Alemão". Um prato gigante mas dou nota 8. Se você for sortudo o garçom esquece de colocar na sua conta. De graça fica mais gostoso.
Descampado
Eu não entendi os matagais, os milhares de terrenos baldios, as avenidas tortas e a arquitetura kitch de prédios novos. Anjos, abóbadas azuis e uma Estátua da Liberdade de fibra de vidro. Cidade ecológica, eu concordo: Ninguém ali corta o capim que invade todos os cantos. O povo é a favor do verde, mesmo que este cresça no meio da calçada.
Verde, Amarelo e ... Vermelho?
Curitibanos gostam de variar nas combinações da bandeira nacional em época de copa. Trocar o azul por lilás e o verde por laranja são opções aceitáveis. Fazer uma versão abrasileirada da bandeira dos EUA é um clássico.
Cusparada da Galinácea
No posto Graal BR116 SP-Curitiba, eles colocam os nomes das coisas em português e inglês. Globalização eu diria. E lá, o espetinho de frango se chama "Chicken Spit". Espeto=Spit. Brilhante. E um Donut é "um tipo de bollo". Com dois "l". Eu comi o "Chicken Spit". Foi como dar um beijo de língua em uma galinha, realmente.

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Calma amigo curitibano. Não é porque eu odiei esta cidade que você vai ficar bravo comigo. A culpa não é sua (ou é?). Curitiba é um dos lugares tristes do mundo. Junto com Pleven na Bulgária, e Kielce na Polônia. Quem nasce lá nunca quer sair. É só uma teoria sobre masoquismo.