25 de dez. de 2006

Eis na lapa

Eu pensei que não me daria ao trabalho de escrever aqui hoje. Afinal de contas, aqui onde me encontro no momento, os termômetros marcam 37 graus, a umidade é terrível. Meu rosto parece lambuzado com óleo de soja. As pernas colam uma na outra. Qualquer bebida esquenta em suas mãos em cerca de 48 segundos. Pela janela, o céu está cinza bem escuro, então vai cair uma tempestade noturna como a que caiu ontem e destruiu os "belíssimos" enfeites de natal espalhados pela cidade.
Na noite de natal eu me lembro de ter comido um pedaço de torta, um de lasanha e uma coisa que creio ser uma fatia de peru, já que veio fatiado. Tomei cerveja e ouvi funk. Muito funk. A família reunida ouvindo "tô ficando atoladinha" e Mary Poppins passando na Globo, a TV em mute.
Uma pequena menina de cerca de um ano dança o funk boladão usando um vestido rosa da Hello Kitty na minha frente. E o pai dela acha lindo. E eu queria que o vento me carregasse pra fora, em um turbilhão descontrolado, para que eu olhasse de repente à minha volta e pudesse dizer "Toto, I don't think we're in Kansas anymore".
Telefonemas de amigos, alguns dispostos a me salvar dali. Eu atendi a um pedido e momentos depois estava na casa de alguém que eu não conhecia, cercada por pessoas que eu nunca tinha visto na vida. Mas é Natal, a gente releva. Vamos beber e tentar rir não é?

É.

Um cara vem educadamente falar comigo, era o dono da casa. Não havia sofás, nem cadeiras. Eu em pé, sentindo calor e sono, bebia minha cerveja morna e falava sobre minha profissão. "É legal ser publicitário né?", o cara dizia pra mim. Eu sorria e dava mais um gole. "Tem que ser criativo" o sujeito dizia. Eu olhava para os pés dele descalços e eu de salto alto. Estava destoada. Eu digo que também gosto de videogames e até faço análise de alguns títulos para um site. E ele disse que isso era super legal. É sim. Até que uma garota baixa, com os cabelos enrolados e mal tingidos de loiro, de tênis e vestidinho jeans se aproxima. Eu reconheço uma lésbica quando vejo uma. Sem problemas. Então a garota começa a falar que não é ligada em nada eletrônico, mas uma vez jogou um jogo muito “foda” que ela adorou. Ela achou lindo apertar uma seqüência de botões no joystick e fazer uma mulher virtual gozar. Que ela queria voltar a cena no jogo de novo e de novo. Eu não tirava a minha lata morna da boca e entornava a cerveja sem parar pensando “Mas que merda, eu nem te conheço, eu não quero saber se você é lésbica e nada disso. Que falta de classe minha filha”. Ela tinha milhares de tatuagens que eu evitei prestar atenção, talvez por estar sonolenta e não querer dirigir muito meu olhar para a cara dela. Depois ela foi embora, e me disse “tchau gata”. Ui. Uma legítima número 44.

Minha noite acaba com eu tendo colapsos de risos dentro co carro com meu irmão e esse cara aqui. Pelo menos a noite terminou comigo rindo, rindo, rindo feito uma boba e pensando que o Natal, é tipo assim, um cu.