4 de abr. de 2007

Like a Virgin

A coisa mais ridícula que eu fiz na minha vida provavelmente será a coisa mais ridícula que eu terei feito pelo resto da minha sublime existência. Será muito difícil superar. É algo vergonhoso para qualquer ser humano, mas que eu não sinto tanta vergonha assim. É o tipo de coisa que você lembra, coloca a mão na cabeça e pensa "hahahahahahahahaha". Pois é.

Aos 17 anos eu, eu... Eu...Ah, desembucha logo!

AOS 17 ANOS EU FIZ UMA PERFORMANCE DE LIKE A VIRGIN DA MADONNA EM FRENTE A CENTENAS DE PESSOAS.

Não me perguntem como eu cheguei lá. Era uma gincana do colégio, algo assim. Estavam lá todos os alunos do colégio, mães, pais, avós, tios... E eu. Eu embaixo de um holofote com um micro short, um bustiê de paetês, meia arrastão e botas. Uma baita performance. É valido lembrar que sendo uma pessoa beeeecha como eu, Madonna sempre foi minha diva. Eu quis fazer uma homenagem a todas as vezes que dancei ao som de "Papa don't preach" em frente ao espelho. Pois é meus queridos, enquanto as meninas dançavam Ilariê da Xuxa, eu me esbaldava no rebolado da Madonna. Desde criança.

Óquei, vamos ao caso. Eu ensaiei, mas não muito. Aos 17 eu já sabia a letra da música de cor, obviamente. Eu só aperfeiçoei a dublagem. Eu pensei, quando me passaram a tarefa: "Bom, vou lá, finjo que canto, dou uns pulos e boa. Não será tão ruim assim, vai ter gente píor do que eu. O lugar vai estar vazio. Vai ser divertido. A sala pediu esse favor pra mim, fui eleita para a tarefa. Eu posso fazer isso". Arrã.

Eu cheguei ao local, que era uma "Cava". Chama-se assim porque é um grande estádio coberto da cidade interiorana que eu venho. Isso, adicionem ao fato que eu fiz uma performance na frente de um monte de caipiras. Humilhação multiplicada por 1000. Esperem, a coisa vai piorar.

Eu cheguei vestida para matar (ou me matar de vergonha). O modelito, maquiagem, cabelo. Tudo envolto em um robe preto de cetim. Claro, eu sou discreta, o modelo "Madonna does Vegas" era só pro momento da apresentação. Eu entreguei o CD para o rapazinho do som. Escrevi um bilhete com o número da faixa e o tempo de duração, colei na capa.Sentei em um banco e esperei chamarem meu nome, enquanto assitia as outras apresentações das salas. Meu medo aumentou quando uma garota fez uma versão de "Hanky Panky" da própria Madonna (aquela que ela canta em Dick Tracy). Era uma garota que fazia academia de dança comigo e ela era boa. (Adendo: sim eu fiz dança durante um bom tempo da vida, jazz, sapateado, a pataquada toda).

Hanky panky é bem mais classy do que Like a Virgin. Eu fiquei apavorada, a menina era boa, escolheu uma música bem menos ridícula. Eu só peguei a porra de Like a Virgin porque era a mais conhecida caceta! Eu estava fodida. Que palhaçada, eu queria fugir, rasgar aquele bustiê de paetês e correr pra fora daquele lugar. Mas não podia. Depois de um garoto magrelo imitar o Reginaldo Rossi, chamaram meu nome. E lá fui eu.

Eu vou dizer que o cérebro é uma coisa doida. Basicamente porque eu não me lembro de nada. Eu me lembro de entrar no palco, da forte luz do holofote e da banca de jurados com professores e o diretor da escola bem na frente do palco. E me lembro de correr depois de 2 minutos e 45 segundos para me cobrir de novo. Eu havia cumprido minha missão. Não me lembro de aplausos ou de vaias. Mas...

Ao final do concurso, divulgaram o nome do vencedor. Do primeiro, segundo e terceiro lugares.

Você me pergunta: "Mas e aí fia, não me diga que você ganhou?" Calma, eu chego lá.

Assim que saí do palco as pessoas sorriam muito para mim. Eu não ouvia nada, parecia que eu estava em outro lugar, meio que em transe. Minha apresentação foi a última, eu esperei darem o resultado e peguei um táxi.

Vamos então ao que aconteceu durante os 2 minutos e 45 segundos de meu show particular:

Eu fiz movimento libidinosos. Me coloquei de quatro e engatinhei até a mesa dos jurados E ENGATINHEI NA MESA esfregando minha derriére no bigode do diretor. Pois sim. Eu rebolei como nunca havia rebolado antes. Fazia cara de vadia, gemia, me contorcia. Fiz coisas de Deus duvida. Só não tirei a roupa porque minha pomba-gira impediu. E eu só descobri meus atos quando assisti um vídeo da situação (que eu espero estar apagado e desaparecido do mundo a uma hora dessas),em frente a uma sala com dezenas de pessoas. Minha gente, foi terrível! Agradeci ao universo por meus pais não estarem lá (na verdade nunca souberam disso, e provavelmente devem estar lendo agora, então, oi mãe, oi pai! Eu sou boazinha viu?!)

Mas Sarah, e o final? Foi que nem filme? Você ganhou o primeiro lugar?

Não. O Reginaldo Rossi magrelo ganhou. Eu fiquei em segundo lugar e isso, porra, isso não vale nada. Mas vá lá. Vou contar essa história pros meus filhos.

E eu hei de me orgulhar. EU HEI DE ME ORGULHAR!

Like a virgin, uhhh

Touched for the very first time...