31 de ago. de 2007

E eu nunca mais passarei fome novamente

Certos acontecimentos me tocam de maneira estranha. Eu sou uma moça que acorda cedo, trabalha e que, no fim do dia volta pra casa para assistir tv a cabo de pijama, com a cachorrinha no colo. Meu dia-a-dia não parece reservar acontecimentos muito extraordinários. Mas ele reserva. Eu atraio naturalmente eventos incomuns e estranhos. Talvez eu somente preste mais atenção em coisas que pessoas geralmente ignoram.

Estes dias eu entrei no ônibus, volta pra casa. Não estava lotado (ufa) e eu pude me sentar em um banco, próximo à saída. Quando me dei conta, havia uma senhora bêbada e louca sentada na escada do ônibus. Ela berrava alguma coisa e eu liguei o mp3 e esqueci do mundo. Até que a velha berrou tão alto que eu olhei para o lado. Eis que a mulher solta uma golfada de vômito no chão. Arroz regurgitado.

Nesta hora milhões de coisas passaram pela minha cabeça. "O que essa tia bebeu?" "Onde ela vai com essas trocentas sacolas?" "Porquê diabos ela TEM que vomitar aqui?" "Eu tinha logo que entrar neste ônibus?".

A vida tem dessas coisas. Mas eu pondero. Eu tento ver além. "Um dia eu terei uma vida mais digna e darei risada destes momentos". Na verdade, logo depois eu ri em casa, mas na hora foi podre.

O triste foi na hora de descer no meu ponto e atravessar aquele mar de suco gástrico e comida semi-digerida. Existem dias que você vê um lindo bebê sorrindo na rua. Em outros, uma mendiga vomita do seu lado.
A vida não poderia ser de outra forma, mesmo.