Ontem um rapaz veio aqui em casa montar uma mesa que eu comprei na Etna. Minha mesa do computador provavelmente tem mais de 40 anos, deve ter vindo da Rússia comunista. É um trambolho horrível que meu irmão comprou em uma loja de móveis de escritório usados. Ela já cumpriu seu papel e eu escolhi uma da Etna por acreditar que é uma loja um pouco melhor que as Casas Bahia. Mas ontem tive uma desagradável surpresa ao receber o móvel.
O rapazinho entrou com as caixas, já colocou tudo no chão e pôs-se a montar a tal mesa. Eu estava mais preocupada em tirar tudo que estava na mesa antiga, papéis das gavetas, desconectar o PC e os milhões de fios que ficam atrás dele. Eu nem olhei para o que o rapaz fazia, afinal de contas, ele deve montar uns 30 móveis por dia. Ele acabou em 5 minutos, juntou as ferramentas e falou que estava saindo. Apressado, me deu a nota para assinar e já foi para porta. Eu o conduzi até a saída do prédio e voltei pra dentro de meu apartamento. Foi aí que vi.
A mesa estava uma verdadeira instalação modernista. Toda torta. A tampa da gaveta gira 360º. O tampo de trás está de ponta cabeça. E o gaveiteiro foi instalado do lado errado. Ou seja, ou o rapaz que montou sofre de alguma deficiência mental e foi contratado por piedade. ou ele sonhava em participar da Bienal de arte moderna e nunca conseguiu.
E eu fiquei olhando pra mesa com cara de idiota. Liguei para o SAC e depois de 23 minutos de espera ouvindo uma musiquinha em MIDI, feita para qualquer ser humano desistir do atendimento, uma mocinha apareceu na linha. Quando expliquei pra ela, eu mesma não conseguia parar de rir. Ela pedia para eu descrever o problema e eu dizia "eu não sei como, mas a gaveta gira em torno do próprio eixo. A parte de trás... Minha filha, eu nunca vi isso... Está de ponta cabeça. É, de ponta cabeça... Não, não, não estou exagerando. O quê eu faço com isso? Uso a mesa para entreter meus amigos?"
Para trabalhar com montagem de móveis é preciso entender que existe parte de baixo e parte de cima. No mínimo. É, acho que não é pedir demais.
12 de dez. de 2007
Analfabetismo lógico
Escrito por Sarah às 20:42
Labels: Vida doméstica