23 de mar. de 2006

Peso Morto

Queria que toda tristeza fosse como um peso morto. Que não servisse para nada. Mas ela serve. Não é preciso de muito para sentir dor, e às vezes você acaba pedindo para sentir, porque é assim que reconhece o que faz bem.

Eu não tenho medo da dor. O tenho medo daquilo que me causa dor. Isso sim me apavora.

Se uma formiga andar sobre uma folha de papel, você chacoalhar e ela cair, o inseto não vai se importar em subir de novo para ser chacoalhado e cair mais uma vez. Fará isso até morrer.

Se você mostrar para um cachorro que o fogo queima, aproximando um fósforo perto do focinho, ele aprende na hora, e nunca mais faz isso de novo. Conhecimento adquirido.

Um ser humano supostamente sabe o que vai fazer mal. Sabedoria daquilo que pode ou não machucar. Ele sabe que o fogo queima porque guarda informações do que causa dor sem precisar experimentar. Conhecimento comum.

Existem coisas que ainda não sei que vão me machucar. Acabo descobrindo depois. Esse conhecimento é novo, é todo meu. Não posso partilhá-lo.

Há certos limites de dor que um ser humano pode suportar. Hoje, agora, eu sinto dor. Uma dor que parece infinita, mesmo que eu saiba que não é.

Eu queria que toda dor fosse um peso morto.

Agradeço por isso, em uma contradição simples e direta.