25 de mai. de 2007

Panteão as Artes

Minhas incursões no mundo artístico nunca foram de grande sucesso. As pessoas botavam muita fé em mim por eu ser irmã de um artista genuíno, daqueles de verdade mesmo, criativo, doido, e acima de tudo, talentoso. Aí nasceu a pequena aqui, o povo achou que ia pegar carona na rabiola. Eu bem que tentei, mas não foi bem assim.

Dos 3 aos 5 anos - Aulas de balé em um conservatório. Eu ficava muito bonitinha de tutu rosa, meia rosa, sapatilha rosa. Mas aquele troço me dava coceira, faniquito. Eu pulava aleatoriamente e minha professora insistia que eu ficasse parada em demi-pliè. Minha alegria era pedir para ir ao banheiro e fugir até a sala de piano. Ficava encostada na porta, ouvindo as aulas, queria estar lá dentro. Meu irmão fazia aulas de piano, mas não gostava. Aí eu pegava os livros dele e ficava ensaiando em um chaveirinho paraguaio que eu tinha. Era um mini-teclado, e eu achava que estava tocando uma sonata.

Dos 5 aos 10 anos - Cursos e cursos. Milhares deles, oficina de artes, oficina de pintura, de poesia, de colagem, de escultura. Na de poesia eu até ia bem, ganhei algumas medalhas de "honra ao mérito". Lembro de ter escrito muitas poesias para coisas estranhas, como uma para a cor azul ou um conto sobre a vida de uma bola de Natal. Eu via aquilo tudo meio hippie demais (desde aquela época). Eu lá assistindo Jaspion, Thundercats, e os coordenadores me falando dos índios e dos sacis. Queria fazer uma escultura gigante do Corujito e eles me falando que a coruja manca de pena roxa brasileira era bem mais bacana. Eu não pensava assim, porra. O Corujito tinha asas de arco-íris e lançava altas sabedorias pra She-Ra. Mil vezes mais legal.

Dos 11 aos 17 - Dança (de novo). Sapateado, Jazz. Quedas, chutes, voadoras, músicas do George Michael, quadris, rebolar, girar e cair de novo. Já dancei vestida de lodo. Isso, lodo, aquela gosma verde que dá na borda da piscina. Eu era o lodo que segurava uma bela pérola no fundo do mar. Uma coisa conceitual assim, de professor gay de jazz. A pérola, a menina loirinha, vestida de branco, com pérolas presas no corpo, um luxo. Eu lá de verde “lodo”. Um collant de corpo inteiro. Não preciso dizer que quando a fantasia da pérola estourou logo no primeiro passo que ela deu, minha alegria de lodo foi inexplicável.

Dos 16 aos, cof cof, 16 - Teatro. Oh sim, eu caí nessa. Sempre ouvi que eu tinha jeito pra teatro. Deve ser a quantidade de caras estranhas que consigo fazer. Eu sempre odiei essas coisas, não sou pessoa de “atuar”. Não curto “ficar pelada em nome da arte”. Rolar no chão e fingir que sou uma pedra, nem pensar. Mas eu tentei. Cheguei lá, me apresentei. Primeiro exercício, para vencer a timidez e concentrar-se: A professora escolhia duplas, colocava um de frente pro outro. Não pode sorrir, se mexer, virar para os lados, nem desviar o olhar. Concentrar-se somente em um ponto e esquecer que aquilo é outra pessoa, é somente uma imagem. “Uau”,pensei “quem sabe funciona, dessa vez vou me esforçar”. Aí ela escolhe meu par. Sento na frente dele. Um japonês vesgo. Vesgo, repito. E eu tinha que fixar meus olhos no olhar dele. Vesgo. Sem rir. PORRA! TÁ DE SACANAGEM? Eu tive um acesso de riso de 15 minutos e fui expulsa da aula. Nunca mais voltei.

Dos 17 aos 19 - Aulas de aquarela. Sim, fiz aulas para aprender a pintar aquarelas. Eu ensopava o papel, fazia uma grande aguaceira colorida e chamava de “Tulipas no Bosque”, ou algo assim. A professora era uma alemã gorda, que, ao me ver pintar, fazia uma cara de desgosto muito grande. Já minha mãe, até enquadrou as Tulipas no Bosque e pendurou na casa dela. Okay, não fica em um lugar visível, está atrás da porta da dispensa, mas já um tipo de consideração.

Dos 14 até hoje - Eu sei bordar ponto cruz. Minha mãe me inscreveu em um curso porque me achava muito nervosa e estressada. Não funcionou muito já que eu costumava a bordar facas ensangüentadas e serras elétricas. Se você precisar de iniciais bordadas no seu enxoval, me dá um toque. Cobro baratinho. Só que o acabamento não é lá essas coisas.

Hoje: - Realizo a arte de acordar, tomar banho, me trocar, passar maquiagem em vinte minutos, correr até o ponto de ônibus e fazer cara de coitada por chegar todos os dias atrasada no trabalho. Também me dedico à incrível arte de criticar as coisas sem parar, mas sempre com o intuito de fazer pessoas rirem. Geralmente consigo, mas nem sempre minha obra é apreciada.

Auto-Retrato em paint. O Marlboro queimando é fundamental. Notem que eu fiz meu rosto quadrado feito uma caixa de leite e minhas mãos não tem dedos. O realismo urge também nas minhas canelas, tão grossas quanto a minha cintura. Primoroso.