25 de jul. de 2007

See no evil, hear no evil

Quando você pensa que está absolutamente sozinho, não está. Principalmente se mora em uma cidade grande. Eu sofro pois mantenho manias solitárias.

Tenho mania de chegar em casa e ficar andando de calcinha trajes íntimos. Faço isso quando estou só, obviamente. Não ficaria de calcinha assim o tempo todo na frente do meu bofe porque senão a pessoa enjôa, e passa a olhar para minha bunda como se olhasse para o abajour. Acho que é preciso manter uma certa distância da rotina. Mas isso não vem ao caso. Eu moro em frente a um grande cruzamento, de grandes prédios altos também. E muitas vezes esqueço do mundo lá fora, abro uma cerveja, ligo o som e fico fumando pela sala. Até que percebo que há um vulto humano no prédio em frente. Com algo que se assemelha a um binóculo nas mãos. E que está voltado para minha janela. Que puto. Faço um sinal obsceno, fecho a janela correndo, sentindo uma vontade enorme de ter uma sniper e acertar a cabeça do vagabundo. Agora, só ando despida com a janela fechada.

Outra mania minha é falar sozinha. Falo sozinha o tempo todo. Converso com a geladeira, faço perguntas a mim mesma e respondo. Imito pessoas, faço vozes, dou risadas de piadas mentais. Faço isso em qualquer lugar e às vezes acontecem coisas inesperadas. Lá estou eu no mercado, prateleira de azeites:"Porra, que troço caro! Quase vinte reais! E esse azeite Maria aqui? É vagabundo. 499ml de óleo de soja e 1ml de azeite. E o povo cai nessa porque é barato. Lançaram até com sabor de alho. Deve ser uma merda". Falo isso na altura normal que conversaria com uma pessoa. Eis que uma senhora pára do meu lado "filha, você está falando comigo?". Eu olhei pra ela e apontei para os fones de ouvido que usava no momento, como se isso respondesse a pergunta. "Não?". A velha se desviou rapidamente para a prateleira de molho de tomate. Ontem no ponto de ônibus, o maldito busão não parou quando eu sinalizei. Eu disse "Páraaa, pára! Não vai parar vagabundo? Se eu tivesse uma arma agora atirava da roda deste miserável filho de uma puta". E quando me dei conta, sete pessoas davam gargalhadas atrás de mim.

E minha mania de esquecer de câmeras de segurança em prédios. Eu e minha amiga no elevador: Eu digo "Nossa fia, comprei um sutiã ótimo!" E levanto a blusa. "O bojo sutenta super bem olha só, posso pular que segura". E pulo. E ela "Sarah, a câmera".
Avemariacheidigrassa!