Estou na sala vendo TV. Ouço um barulho na porta de entrada. Quando me levanto surge no corredor uma equipe inteira de filmagem. A repórter, de jaleco branco, enfia um microfone em minha cara. Antes que eu possa dizer qualquer coisa ela pergunta, falando rapidamente:
- Que tipo de alvejante você usa em suas roupas?
Confusa, eu não sei o que pensar, as luzes me deixam tonta, a câmera focada em mim:
- Que porcaria é essa aqui na minha sala? Como vocês entraram?
- Você sabia que a maioria dos alvejantes destrói as fibras...
- Que alvejante? SAI DAQUI AGORA FILHA!
Eis que a repórter pega uma taça de vinho e joga em minha camiseta.
- MAS QUE PORRA? Você fumou crack? Vou chamar a políc...
- Com o novo alvejante VIVAZ você elimina manchas e ainda preserva o tecido!
Eu fedia vinho tinto vagabundo. A repórter começou a preparar um balde com água bem ao lado da poltrona sorrindo para a câmera afirmando vorazmente:
- Prático! Veja como dissolve fácil!
Eu olho para os lados, buscando o telefone ou algum objeto contundente para bater naquela repórter imbecil e quem sabe fugir pela rua, buscar ajuda.
A repórter se vira para mim. Ordena:
- Sua camiseta por favor.
- Moça, me explica o que é isso tudo? Onde... Porque...
- Vamos eliminar essa mancha em apenas alguns segundos. Aí nós vamos embora.
Ela me olhou com firmeza. Acuada, tirei a camiseta, cobrindo meu corpo com os braços, entreguei a peça encharcada de vinho, tremendo.
A repórter, com seu jaleco alvo e brilhante, colocou a camiseta dentro do balde transparente. Eu observei a camiseta boiar e efervescer, com uma imensa vontade de chorar.
Ela tirou a camisa, levantou para a câmera.
- Veja a eficácia de VIVAZ bem em frente aos seus olhos!
A câmera foca em mim. Eu sorrio nervosamente, faço um sinal positivo.
Ela me entrega a camiseta pingando. Pega o balde e sai com toda a equipe por onde entrou. Eu me sento, semi desnuda, segurando a camiseta molhada. Eu não sei que acabou de acontecer.
No dia seguinte, acordo pensando que não é bom comer mortadela antes de dormir porque dá pesadelo. Entrei no banheiro. Asim que abaixo as calças, uma equipe de filmagem abre a porta do recinto, de solavanco. Luzes cegantes, o microfone em minha cara. Agora é um homem com o cabelo cheio de gel me pergunta:
- O que você faz para eliminar os maus odores do seu banheiro?
Antes que eu possa fazer qualquer coisa, ele espirra um líquido com cheiro de lavanda em cima de mim. Eu estou com as calças abaixadas. E cheirando a lavanda.
Malditas propagandas investigativas.
17 de abr. de 2009
Propaganda investigativa.
Escrito por Sarah às 16:03
Labels: Publicidade
16 de out. de 2007
Senso
Eu no meu quarto, arrumando a zona. Ouço meu irmão berrar na sala. "Sarah, corre aqui". Lá fui eu.
Ele:
-Olha essa propaganda da Philips!
Eu:
-Mas que merda?
Na tela, Ivete Sangalo se contorce em uma calça de vinil preto, cantando em português e inglês. Luzes, flashes, hip-hop, mais luzes, mais flashes. Gente pulando. Cafona.
- Sarah, na boa, que porra é essa?
- Ué meu, é uma propaganda tosca.
- Mas tá fora do sentido.
- Eu sei. "Sense and Simplicity". Quero ver o povo pronunciar isso, rápido.
- A porra da Ivete Sangalo... Esse slogan idiota!
- Percepção e simplicidade. Tantas luzes e raios laser não me parecem muita simplicidade.
- Eles querem puxar essa coisa de simplicidade do design dos produtos da Apple.
- E socam a Ivetona com calça de vinil.
- Meu, os caras ganham dinheiro pra fazer essas merdas, eu não acredito.
- Ganham MUITO dinheiro.
- Que merda.
- Puta merda.
- Vou jogar Halo 3.
-Boa.
Escrito por Sarah às 18:12
Labels: Brasil, Cafonice, consumo, Publicidade, Revolta pessoal
1 de ago. de 2007
Vermelho vermelhou no vermelhau
Quando vejo um ser usando a famigerada camiseta do Che Guevara tenho vontade de aplicar-lhe algum golpe de Krav Magá (arte marcial israelense e a mais eficiente e mortal do mundo). Juro, seja homem, mulher, criança (sou cruel como o diabo...). Outro dia vi um bebê que mal andava usando a maldita camiseta do barbudo idiota. Tinham que pegar a mãe dessa criança e dar uma surra de pau mole.
Mas, o mundo é cheio de cretinos, quem sou eu para sair dando sopapos por aí? Sou apenas uma menina de "crasse média" que admira os ideais libertários ( e libertinos?) , enfim.
Indo mais além na rápida discussão aqui, eu adoro, não, adorar é pouco, EU AMO quem tem capacidade de tirar sarro de si mesmo. E eu também tenho carinho especial por russos. Esse povo breaco passou poucas e boas na história e continua sendo foda em muitas coisas. Principalmente em fazer piada com a merda que passaram por lá durante o regime socialista.
Olha só que belo anúncio com o "tripé" da vermelhidão USSR sendo zoado em um anúncio na República Tcheca:
Ei, vocês prestaram atenção nos atletas cubanos desesperados para não voltarem pro país deles depois do Pan? Os caras queriam fugir pra sempre e ficar aqui no Brasil. Deu dó.
Agora: eu não tenho dó desses hippies idiotas que vão pra Cuba e admiram a merda do Fidel Castro. Esses baguás deviam ir morar lá e ver a delícia que é a verdadeira faceta da cuba de Castro. Com um charuto enfiado no meio do traseiro.
Escrito por Sarah às 18:43
Labels: Hippies, Política, Publicidade
3 de jul. de 2007
Meio e Mensagem
Talvez este seja um post suicida.
Calma lá que não vou arremessar meu corpo de uma janela. Não fisicamente. Eu estou arremessando meu corpo para fora de todas as janelas de todas as agências de propaganda que valeria a pena trabalhar (ou não) neste estado (e consequentemente país).
Ontem fui a um evento de publicitários. Premiação de mídia, realizada por um grande jornal brasileiro. E foi uma merda. Foi uma merda não a premiação em si, afinal, essas coisas são iguais em todos os lugares. Mas , ahn, enfim.
Depois da entrega, claro, veio a festança. Uma escola de samba adentra os portões, seguida pelas batidas eletrônicas sampleadas das músicas MAIS PODRES possíveis, retiradas diretamente do último cd Technopan by Luciano Huck. Juro. Era doentio.
Na verdade, eu espero, do fundo do meu coração, que as pessoas ali não façam parte das equipes de criação. Eu espero que as equipes de criação não freqüentem este tipo de ambiente. Me senti em uma "balada de micareteiro". Um monte de sujeito com a camisa pra dentro, suados, enchendo a cara de whisky Ballantines e dançando aquela música horrenda. Como se não houvesse amanhã.
Me lembrei das festas de publicitários que "visitei" quando morava no interior. Eram idênticas, salvo trocar o sotaque paulista pelo caipira. As moças do atendimento batendo o cabelo para os lados descontroladamente, o povão aproveitando a boca livre de salgadinhos de massa folheada, os sujeitos mais velhos tentando arranjar alguma coisa com as moças que batem cabelo e uma quantidade exorbitante de homens bêbados feito gambás e vestidos como vitrines da Brooksfield. E muito gel no cabelo. Ou pomada, se forem moderninhos.
Não suporto festas de publicitários em geral porque elas só me deixam frustrada. E depois de ontem, onde haviam pessoas das maiores e melhores agências do país, fiquei pior ainda. Fui com a vã esperança de conhecer pessoas de outras agências. Porque, aqui é "all about who you know". E eu não conheço ninguém.
Mas se conhecer pessoas de outras agências é ouvir uma cantada do tipo "me dá um autógrafo?", eu prefiro fazer um outdoor com a minha cara gigante, fazendo sinal de positivo e escrito em letras garrafais "E aí, precisando de uma redatora? Tamos aí!". E depois colocar em frente a todas as agências de São Paulo.
E nem me façam citar a parte que funcionários das agências foram chamados para discotecar. Só digo que eram as agências mais fodinhas do mercado, com seus representantes mandando músicas do naipe de uma versão "téquinodance" de Off The Wall do Pink Floyd. Juro por todos os átomos do meu corpo.
Triste realidade minha gente, muito triste.
Escrito por Sarah às 15:07
Labels: Cafonice, Música, Publicidade, Revolta pessoal