28 de ago. de 2008

Riscando a lousa

No colegial eu aprendi que, mesmo estudando em uma escola particular, onde a maioria massiva dos alunos possuía muito dinheiro, os professores ensinavam que a elite era má. E os filhos da elite odiavam a elite. Apesar da gritante distorção de realidade, eu tentava manter minha mente um tanto fora desse abismo cultural que é a educação brasileira. Não era fácil. Penei até me formar. Hoje continuo penando. Porque o abismo se mantém. Não preciso procurar muito pra encontrar provas de que, para o brasileiro, o Brasil é o país das frutas mais doces, das pessoas mais calorosas e do céu mais azul.

Coisas lindas para um resort e nada eficiente para uma nação.

Aí que no portal UOL existe um serviço onde temas para redações são sugeridos e os jovens internautas enviam textos para serem avaliados por professores, que corrigem explicando os erros e acertos dos alunos. Coisas de vestibulando.

Li várias redações, todas com temas idênticos aos que fui submetida no colegial, há mais de 10 anos: Favelas, Pobreza, Desigualdade Social, Globalização. Trechos de dissertações baratas que busca agradar professores. Mas que no fim não fazem diferença alguma.

Sobre a cultura brasileira estar se perdendo com o IMPERIALISMO (palavra essa que eu falo arrotando feijoada) o adolescente discorre:

"Percebe-se que falta uma reação, uma vontade dos jovens de olhar pra trás e pensar em honrar aqueles tantos que lutaram e morreram em nome do Brasil, perceber quão sortudos são em terem nascido nesse país esplêndido, tão belo, tão acolhedor, que não tem terremotos ou vulcões, de natureza tão majestosa, tão simples, tão alegre."

Brasil... Tão alegre, tão inofensivo, tão cheio de pés de pitanga e sabiás. Realmente um paraíso na terra.

Outro aluno esbofeteia minha cara:

"Muitos são os jovens que desconhecem a música combatente do período ditatorial ou as produções plásticas no início do sec. XX. O meio mais eficaz para combater essa desvalorização nacional é a criação um sistema educacional forte e de qualidade."

Desconhecem a música combatente do período ditatorial? Você quer dizer aquela merda do Geraldo Vandré que meu professor de história me fez ouvir, debatar, encenar e cantar sessenta vezes?

Sobre nossa comida light e a comida engordativa capitalista:

"Um ótimo exemplo é os Fast-food, comida espelho de um mundo cada vez mais globalizado, que visa a obtenção de lucro. Muitas das pessoas que foram obrigadas a substituir a comida caseira por essas refeições"

O cara reclama de fast food. O sujeito que vende tapioca na rua visa o quê? Te dar azia? Acho que ele visa ganhar 4 reais - ah "maldita" obtenção de lucro!

Esse estudante fez meus intestinos explodirem:

Ficar sentado, assistindo TV e, apesar de cansado de ouvir todos os dias as mesmas notícias de corrupção e violência, permanecer indiferente a tudo isso não dignifica um herói. Por que não adotar o nacionalismo getulista e investir na melhoria do país?

NACIONALISMO GETULISTA?! Eu aqui querendo exorcizar Getúlio, sonhando com o dia que seu ectoplasma suma da constituição e esse MOLEQUE vem com essa? Getúlio herói!? Enrola ele em folha de banana e faz o puto voar pelos céus lançando ação trabalhista no seu rabo pra ver se é bom.